Projeto promove saúde humanizada por meio da palhaçaria hospitalar

De nariz vermelho e com roupas coloridas, “Os Cheios de Graça” transformaram a rotina do Hospital Estadual Getúlio Vargas na manhã do dia 18 de março. Criado há cinco meses, o grupo faz uso das linguagens do palhaço em ações que procuram amenizar a tensão existente no ambiente hospitalar. Com música, bate-papo e improviso, a iniciativa, da Assessoria Técnica de Humanização da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (ATH-SES/RJ), e que tem o apoio do IPCEP e da Direção do Complexo Estadual de Saúde da Penha, contagia pacientes, acompanhantes e funcionários e ajuda a oferecer algum conforto para as pessoas que passam por momentos difíceis e estão com a saúde debilitada.

O trabalho da trupe é totalmente voluntário e acontece sempre aos sábados. Antes, os integrantes passam por um curso introdutório, onde compartilham a história da gênese da criação da palhaçaria e abordam a trajetória do riso na humanidade e do arquétipo do palhaço, através do WhatsApp, e, ao final, participam de um workshop presencial, onde são realizadas dinâmicas de linguagem corporal e práticas de palhaçaria hospitalar. A qualificação é gratuita.

Segundo a coordenadora do projeto, muito mais do que levar alegria e arrancar gargalhadas, os palhaços voluntários têm um papel fundamental para o paciente e o tratamento. “A quebra da rotina ameniza a passagem do paciente pelo hospital. As enfermarias se transformam, as preocupações e as dores emocionais são temporariamente esquecidas e dão lugar à alegria. O sorriso gera sensações agradáveis nos pacientes e contribui para amenizar situações adversas geradas pelo adoecimento”, afirma Kelli Bahia.

A diretora pedagógica, que atua como palhaça há 6 anos, conta que, ao vestir a personagem, tem como missão levar amor ao próximo. “A gente dá muito pouco daquilo que a gente recebe. Essa é a minha forma de transmitir aos pacientes, familiares e profissionais de saúde a mensagem de que eles não estão sozinhos. Meu foco é distribuir afeto e ter empatia com quem tanto necessita”.

A arte da palhaçaria é uma atividade ancestral utilizada desde a antiguidade como forma de expressão. Ao longo dos anos esta prática foi se aprimorando e se inserindo em diferentes contextos, estando atualmente bastante difundida na área da saúde, especialmente no ambiente hospitalar. Sabe-se que a presença do lúdico propicia momentos de descontração, constituindo-se em um fator importante de promoção de bem-estar na vida dos hospitalizados.

A inclusão do palhaço na instituição hospitalar se consolidou a partir de Michael Christensen, um dos fundadores do Big Apple Circus (um dos mais importantes circos do mundo), em 1986. Na ocasião, ele e seu colega, Jeff Gordon, se apresentaram no New York’s Babies and Children’s Hospital – em cena, um palhaço, que assume o papel de médico, e satiriza situações do cotidiano hospitalar. Os resultados promissores dessa atuação motivaram globalmente a formação de inúmeros grupos de palhaços de hospital. Transformar o ambiente hospitalar, ressignificando-o, colaborando para o bem-estar dos pacientes e gerando conexões reais e empáticas entre os envolvidos. Esse é o objetivo da palhaçaria hospitalar.

Kelli relata que, quando um palhaço entra no hospital, a transformação acontece. “Ano passado, em uma visita no INCA, o pai de uma criança de 2 anos me perguntou se eu sabia qual era o valor de um abraço. Depois de alguns segundos em silêncio, ele continuou a narrativa dizendo que Deus usa pessoas, conhecidas ou não, para transformar o dia, o ambiente, os sentimentos, e que ele tinha a certeza de que, naquele dia, eu e os outros palhaços, éramos porta-vozes dos céus para lembrar a ele e à filha de que não estavam sozinhos naquela situação e que tudo iria dar certo. A gente não pode ter contato com o paciente, mas, nesse dia, ele pediu para que a filha me abraçasse. Foi impossível dizer ‘não’. Nessa hora, fui eu quem fui tocada e cuidada”, conta, emocionada.

As intervenções artísticas nos ambientes de saúde são baseadas no encontro e ocorrem leito a leito. Cada troca entre palhaço e paciente é um novo vigor artístico, uma surpresa improvisada, cujo objetivo é gerar alegria e potencializar a melhora do quadro de saúde.

Para conhecer o trabalho do grupo e receber informações sobre o curso de iniciação em palhaço de hospital, basta acessar o perfil @trupeoscheiosdegraca no Instagram.

 

Fontes: Trupe Os Cheios de Graça, Escola de Palhaços – Universidade de São Paulo, Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, Assessoria Técnica de Humanização da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (ATH-SES/RJ) e Assessoria de Comunicação do Complexo Estadual de Saúde da Penha. Fotos: IPCEP.